terça-feira, 12 de maio de 2009

Comentário de Élvio Vargas sobre o Espetáculo Corte


Tic-Tac...Tic-Tac...(...) Seres habitam e vagam sobreviventes em um espaço que pode ser de todos. Desde os tempos mais remotos que o homem sente a presença do tempo, através da luz e da treva. Imemorial, remoto, inalcançável dentro de sua própria medida, travestido de nuanças, porém, resoluto na sua dimensão de invisível imponência. Esfíngico, ele surge na hora da semeadura, alegre e sinistro, ressurge na colheita. Assim ele vai catalogando seus milésimos, que para nós representam séculos. Se na era agrícola seus assombros eram de binárias rotações cósmicas, na era industrial a mudança é drástica. Ele está nas engrenagens, nas ferramentas, rótulo, trabalho, capital, na usura e no lucro. Hoje ele não é mais linear, está fragmentado, obíquo- é mais DEUS ainda- forte, severo, ameaçador. Como se por si só seu império não fosse devastador, os homens lhe deram uma grande aliada, dotaram-no de uma voz feminina, uma sibila eletrônica que lhe devolveu o oráculo. Ele já foi Heródoto, Sófocles, Napoleão, o terceiro Reich, está entre os avisos de meteorologia, anuncia a guerra, concede a paz, tudo depende do seu humor. Esquarteja-nos, dota-nos da cegueira de Homero e cicatriza nossa visão com os olhos de Borges!!!...(...) tempo tempos memória passado presente passado presente futuro? somos reféns de nossas próprias orfandades, exorcizamo-nos através do castigo. São terríveis as facas de Medéia, elas não foram afiadas para ferir, foram forjadas para matar. Matamos tudo e somos salvos pela oculta página da memória!!!É no inventário das lembranças que reeditamos a cidade dos arquétipos.
A pedra de Sísifo é o moinho que sopra nossa urdidura, viveremos com ela até o fim de nossos dias...por excesso de tempo, CORTO aqui...Tic-Tac...Tic-Tac...
Élvio Vargas

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