Cicatrizes do mundo
“Corte” estreia amanhã no Museu do Trabalho
Corte pode significar um ferimento. Mas também pode ser entendido como a interrupção de um processo. Nos meios acadêmicos, corte pode ser traduzido como um viés assumido por um observador. O espetáculo Corte, que estreia amanhã, no Teatro do Museu do Trabalho, admite todas essas interpretações e ainda mais: é o novo espetáculo do diretor Decio Antunes.A expectativa em torno de Corte é considerável, afinal, duas outras montagens de Decio Antunes – Mulheres Insones (2006) e A Casa (2007) – venceram o Açorianos de melhor espetáculo de dança. Mas as preocupações do encenador são outras. Segundo ele, Corte quer colocar em cena um momento histórico limite:– A primeira década do novo milênio é pautada por intolerância religiosa e étnica, catástrofes ambientais e financeiras, controle cada vez maior do indivíduo. A cidade expõe suas cicatrizes. O que virá depois?Para transformar isso em teatro-dança, Antunes contou com parcerias já confirmadas: Maria Waleska Van Helden na coreografia, Felix Bressan projetando a cenografia e Coca Serpa criando os figurinos. O resultado final é próximo de um flagrante pré-apocalipse. O Teatro do Museu do Trabalho perdeu arquibancadas para que uma avenida cruzasse o espaço. Em torno dela, o público tentará se acomodar cercado por um ambiente de excesso de informação e movimentos enérgicos e viscerais. Monitores de TV e telas de computador espalhados pela sala estarão pulsando no ritmo do caos urbano.Antunes observa que Corte (que tem patrocínio parcial do Fumproarte e apoio da CEEE via Lei Rouanet) garante mais espaço à palavra, se consideradas Mulheres Insones e A Casa. As falas partem de um observador onisciente, que às vezes tenta propor uma análise racional do que observa, algumas vezes persegue um impacto poético, outras contenta-se em apenas ser uma palavra entoada em meio à desordem. Para construir o texto, Antunes repetiu o método de buscar em autores clássicos e contemporâneos o verbo certo.– Há ecos de Sófocles, Eurípedes, Shakespeare, Lorca e Heiner Müller. Mas se destaca Beckett. A obra dele, especialmente Fim de Partida (1957), resume o que vivemos agora.Se, em Fim de Partida, duas pequenas janelas permitiam vislumbrar um aceno de salvação, em Corte esse papel fica a cargo dos monitores. A tecnologia é a salvação? Ou a comunicação? Ou o abuso delas colocará o mundo a perder? Antunes não se preocupar em fechar questão:– Pelo contrário. Espero que o Corte seja largo e profundo o suficiente para que cada um faça sua leitura. Mas vamos continuar sorrindo, não é? Estamos sendo filmados...
“Corte” estreia amanhã no Museu do Trabalho
Corte pode significar um ferimento. Mas também pode ser entendido como a interrupção de um processo. Nos meios acadêmicos, corte pode ser traduzido como um viés assumido por um observador. O espetáculo Corte, que estreia amanhã, no Teatro do Museu do Trabalho, admite todas essas interpretações e ainda mais: é o novo espetáculo do diretor Decio Antunes.A expectativa em torno de Corte é considerável, afinal, duas outras montagens de Decio Antunes – Mulheres Insones (2006) e A Casa (2007) – venceram o Açorianos de melhor espetáculo de dança. Mas as preocupações do encenador são outras. Segundo ele, Corte quer colocar em cena um momento histórico limite:– A primeira década do novo milênio é pautada por intolerância religiosa e étnica, catástrofes ambientais e financeiras, controle cada vez maior do indivíduo. A cidade expõe suas cicatrizes. O que virá depois?Para transformar isso em teatro-dança, Antunes contou com parcerias já confirmadas: Maria Waleska Van Helden na coreografia, Felix Bressan projetando a cenografia e Coca Serpa criando os figurinos. O resultado final é próximo de um flagrante pré-apocalipse. O Teatro do Museu do Trabalho perdeu arquibancadas para que uma avenida cruzasse o espaço. Em torno dela, o público tentará se acomodar cercado por um ambiente de excesso de informação e movimentos enérgicos e viscerais. Monitores de TV e telas de computador espalhados pela sala estarão pulsando no ritmo do caos urbano.Antunes observa que Corte (que tem patrocínio parcial do Fumproarte e apoio da CEEE via Lei Rouanet) garante mais espaço à palavra, se consideradas Mulheres Insones e A Casa. As falas partem de um observador onisciente, que às vezes tenta propor uma análise racional do que observa, algumas vezes persegue um impacto poético, outras contenta-se em apenas ser uma palavra entoada em meio à desordem. Para construir o texto, Antunes repetiu o método de buscar em autores clássicos e contemporâneos o verbo certo.– Há ecos de Sófocles, Eurípedes, Shakespeare, Lorca e Heiner Müller. Mas se destaca Beckett. A obra dele, especialmente Fim de Partida (1957), resume o que vivemos agora.Se, em Fim de Partida, duas pequenas janelas permitiam vislumbrar um aceno de salvação, em Corte esse papel fica a cargo dos monitores. A tecnologia é a salvação? Ou a comunicação? Ou o abuso delas colocará o mundo a perder? Antunes não se preocupar em fechar questão:– Pelo contrário. Espero que o Corte seja largo e profundo o suficiente para que cada um faça sua leitura. Mas vamos continuar sorrindo, não é? Estamos sendo filmados...
RENATO MENDONÇA
CORTE
Coreografias de Maria Waleska Van Helden e direção de Decio Antunes.
Com Cristina Camps, Fabiane Severo, Graziela Silveira, Maria Albers, Patrick Vargas, Robson Duarte e Stela Menezes.
Às sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h. Estreia amanhã, às 21h. Duração: 60 minutos. Temporada até 26 de julho. Classificação: 14 anos.
Teatro Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230), fone: (51) 3227-5196.
Ingressos: R$ 20, com desconto de 50% para maiores de 60 anos e para estudantes.
O espetáculo: em um cenário apocalíptico, a montagem de teatro-dança do grupo JogodeCena quer discutir as disputas entre nações, culturas e crenças que marcam o início do milênio e a dificuldade de comunicação das grandes cidades..
Coreografias de Maria Waleska Van Helden e direção de Decio Antunes.
Com Cristina Camps, Fabiane Severo, Graziela Silveira, Maria Albers, Patrick Vargas, Robson Duarte e Stela Menezes.
Às sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h. Estreia amanhã, às 21h. Duração: 60 minutos. Temporada até 26 de julho. Classificação: 14 anos.
Teatro Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230), fone: (51) 3227-5196.
Ingressos: R$ 20, com desconto de 50% para maiores de 60 anos e para estudantes.
O espetáculo: em um cenário apocalíptico, a montagem de teatro-dança do grupo JogodeCena quer discutir as disputas entre nações, culturas e crenças que marcam o início do milênio e a dificuldade de comunicação das grandes cidades..
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