terça-feira, 12 de maio de 2009

Matéria no Jornal Zero Hora


Cicatrizes do mundo
“Corte” estreia amanhã no Museu do Trabalho


Corte pode significar um ferimento. Mas também pode ser entendido como a interrupção de um processo. Nos meios acadêmicos, corte pode ser traduzido como um viés assumido por um observador. O espetáculo Corte, que estreia amanhã, no Teatro do Museu do Trabalho, admite todas essas interpretações e ainda mais: é o novo espetáculo do diretor Decio Antunes.A expectativa em torno de Corte é considerável, afinal, duas outras montagens de Decio Antunes – Mulheres Insones (2006) e A Casa (2007) – venceram o Açorianos de melhor espetáculo de dança. Mas as preocupações do encenador são outras. Segundo ele, Corte quer colocar em cena um momento histórico limite:– A primeira década do novo milênio é pautada por intolerância religiosa e étnica, catástrofes ambientais e financeiras, controle cada vez maior do indivíduo. A cidade expõe suas cicatrizes. O que virá depois?Para transformar isso em teatro-dança, Antunes contou com parcerias já confirmadas: Maria Waleska Van Helden na coreografia, Felix Bressan projetando a cenografia e Coca Serpa criando os figurinos. O resultado final é próximo de um flagrante pré-apocalipse. O Teatro do Museu do Trabalho perdeu arquibancadas para que uma avenida cruzasse o espaço. Em torno dela, o público tentará se acomodar cercado por um ambiente de excesso de informação e movimentos enérgicos e viscerais. Monitores de TV e telas de computador espalhados pela sala estarão pulsando no ritmo do caos urbano.Antunes observa que Corte (que tem patrocínio parcial do Fumproarte e apoio da CEEE via Lei Rouanet) garante mais espaço à palavra, se consideradas Mulheres Insones e A Casa. As falas partem de um observador onisciente, que às vezes tenta propor uma análise racional do que observa, algumas vezes persegue um impacto poético, outras contenta-se em apenas ser uma palavra entoada em meio à desordem. Para construir o texto, Antunes repetiu o método de buscar em autores clássicos e contemporâneos o verbo certo.– Há ecos de Sófocles, Eurípedes, Shakespeare, Lorca e Heiner Müller. Mas se destaca Beckett. A obra dele, especialmente Fim de Partida (1957), resume o que vivemos agora.Se, em Fim de Partida, duas pequenas janelas permitiam vislumbrar um aceno de salvação, em Corte esse papel fica a cargo dos monitores. A tecnologia é a salvação? Ou a comunicação? Ou o abuso delas colocará o mundo a perder? Antunes não se preocupar em fechar questão:– Pelo contrário. Espero que o Corte seja largo e profundo o suficiente para que cada um faça sua leitura. Mas vamos continuar sorrindo, não é? Estamos sendo filmados...


RENATO MENDONÇA

CORTE
Coreografias de Maria Waleska Van Helden e direção de Decio Antunes.
Com Cristina Camps, Fabiane Severo, Graziela Silveira, Maria Albers, Patrick Vargas, Robson Duarte e Stela Menezes.
Às sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h. Estreia amanhã, às 21h. Duração: 60 minutos. Temporada até 26 de julho. Classificação: 14 anos.
Teatro Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230), fone: (51) 3227-5196.
Ingressos: R$ 20, com desconto de 50% para maiores de 60 anos e para estudantes.
O espetáculo: em um cenário apocalíptico, a montagem de teatro-dança do grupo JogodeCena quer discutir as disputas entre nações, culturas e crenças que marcam o início do milênio e a dificuldade de comunicação das grandes cidades..


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